sexta-feira, 15 de março de 2013

Crisântemo - Capítulo III


Capítulo III – Thayse’s pov I

            Miguel tinha, naquela época, tinha 4 anos de idade, enquanto eu 6. Depois de chegar da escola, eu sempre me divertia falando com ele.
            - Ei tata, um dia vou ser um super-herói e vou salvar o mundo!
            Então, eu sorria e respondia pra ele:
            - Claro!
            Esta é uma das conversas que eu queria ter tido mais vezes com ele.
            Todos os dias nós pegávamos um ônibus para ir à escola. Miguel ia para uma escolinha de maternal, enquanto eu ia para o pré. Na volta, nós dois pegávamos novamente o mesmo ônibus para voltar para casa. A partir do ponto onde descíamos, íamos para casa a pé. Afinal, não ficava muito longe dali. A cidade era pequena.
            Uma vez, depois de voltarmos para casa, eu e Miguel ficamos na sala brincando com nossos bonecos. Ele ficou com fome e foi para a cozinha. Lá ele ficou por um tempo, por isso fui ver o motivo da demora. Surtei quando cheguei lá e vi meu irmão com um bolinho na boca.
-MIGUEL!!!! Não acredito!! Você comeu o meu bolinho?!?! Você já tinha comido o seu! O meu estava aqui! – apontando para a mesa ao lado do fogão.
Eu corri, subi as escadas e fui falar para a minha mãe.
-Mãe! O Miguel comeu o meu bolinho e o dele!! – dizia, toda irritada e manhosa.
Ela estava se arrumando para o trabalho.
- Não tem problema, na volta do trabalho eu compro um pra você.
- Mas você tem que dar uma bronca no Miguel! – disse, fazendo um biquinho.
- Agora já não dá mais tempo, estou em cima da hora. Vou dar um aviso pra ele. - Ela desceu as escadas e eu a segui. Então, ela foi para perto da cozinha e gritou de lá:
- Miguel! Não coma o bolinho da sua irmã! – e saiu para o trabalho.
Miguel ouviu e continuou agindo normalmente.
Quem cuidava de nós era nossa avó, que na maioria do tempo ficava assistindo TV e fazendo bordados. Depois da confusão, nós ficamos com ela na sala, em cima de um tapete, brincando com nossos bonecos.
Ele pegou seu boneco preferido, que era de um personagem famoso na época de super-heróis.
            - Quando eu crescer vou ser um super-herói que salva todo mundo. – dizia, enquanto balançava seu boneco no ar.
            - Ai, Miguel, sinto muito por dizer isso... mas heróis não existem. – disse, de um jeito meio egoísta. Ainda estava meio brava por causa do bolinho.
            - Existem sim! – e ficava mexendo no boneco.
            - Existem não.
            Então eu olhei para a TV e fiquei vendo a novela com a vovó. Em seguida, apareceu uma cena onde uma mulher agradecia loucamente um médico por ter curado seu filho de alguma doença grave.
            - Muito obrigada, doutor! – ela dizia, com lágrimas nos olhos e apertando a mão dele.
            - Não foi nada. É apenas o meu dever. – ele respondia, com segurança e apertando a mão da mulher.
            - Mas mesmo assim, doutor. Você salvou o meu filho! Você é como um herói para mim!
            “Você é como um herói pra mim”....
Fiquei pensando nessa frase. Então eu virei para Miguel e falei:
- Ei, Miguel. Dá pra você ser médico. Você vai poder salvar pessoas.
- Então vou ser médico.
Ele disse isso e continuou brincando, como se não fosse nada. Ainda tinha 4 anos, não sabia de nada do mundo ainda. Mesmo assim, a frase e o modo que ele disse ficam na minha mente até hoje.
Depois de algum tempo, descobrimos que Miguel tinha uma doença rara. Como ele ainda era muito novo, todo tratamento que fizéssemos seria arriscado. Mas mesmo assim, fizemos o tratamento. Um dia, fui visitá-lo no hospital junto com meus pais. Entrei em seu quarto e o vi deitado na cama, com um fio de soro ligado em seu braço.
- Oi Miguel! Trouxemos flores para você! – disse minha mãe, colocando em um vaso do lado da cama.
- Brigada, mãe.
- E...olha! Eu comprei aqueles bolinhos que você tanto gosta! Dessa vez eu trouxe 2 para você! – falava meu pai, dando os bolinhos para ele.
Depois disso, meus pais saíram do quarto para conversar com o doutor. Ficamos então só eu e ele. Sentei-me em uma cadeira ao lado da cama.
Ele pegou os dois bolinhos e colocou-os em seu colo, todo contente. Coloquei meus braços atrás de minhas costas e sorri. Para minha surpresa, ele parou, pegou um bolinho e ofereceu para mim.
- Não, não. Não precisa. – disse, abanando minhas mãos. – Esses bolinhos são para você.
Matheus simplesmente ignorou. Pegou um deles e colocou no meu colo. Então, abriu o dele e começou a comer, como se nada tivesse acontecido.
- Seu bobo. – disse, quase chorando.
Depois de alguns dias, a situação dele piorou drasticamente. Meus pais não me contavam os detalhes por talvez ser muito nova para entender ainda. Mesmo assim, eu continuava fazendo companhia de vez em quando para ele.
- Ei... você uma vez disse que queria ser um super-herói, certo?
- Eu quero.
- Então...naquela época eu menti quando disse que eles não existem. Eles existem sim, viu! – disse isso para ele se sentir melhor.
- Não... eu vou ser médico.
- Mas...você não queria ser um super-herói?
- Vou ser médico.
O tempo passou. Passou tão rápido que em um piscar de olhos aquele dia chegou.
- Infelizmente, nós não temos mais nada a fazer. – dizia o médico.
Todos da família ficaram extremamente abalados com esse fato. Todos nós nos abraçamos e começamos a chorar desenfreadamente.
Chegando em casa, peguei o boneco dele e lembrava da frase que uma vez ele me disse. “Vou ser médico!”. Apertei aquele bonequinho e comecei a chorar novamente. Depois de alguns instantes deitada no tapete da sala, tomei uma decisão.
“Não se preocupe, Miguel. Eu realizarei seu sonho”.
Decidi me dedicar mais aos estudos. Mudei de escola, e foi nessa hora que eu conheci companheiros muito importantes da minha infância.
Logo, meus amigos favoritos tornaram-se Sofia, Samuel, Damian, Júlio e Lívia. Os dois últimos, principalmente. Depois da saída de Lívia, nosso grupinho diminuiu e eu comecei a sair mais com Júlio. Entretanto, depois de conversar um pouco com Samuel, passei a admirá-lo.
Samu era meu vizinho. Muitas vezes eu ouvia ele tocando e cantando algumas músicas. Então eu batia na janela dele e dizia:
- Que música bonita.
- Obrigado.
Então eu ficava de cotovelos na janela ouvindo, às vezes até com os olhos fechados.
- Pronto, terminei.
- Ah, toca mais!
- Não, agora já cansei.
- Mas você toca violão e canta muito bem, sabia?
- Obrigado, quando crescer vou me tornar músico.
- Oh! Verdade?
- Sim.
- E eu vou ser médica, sabia?
- Legal.
Sua indiferença com relação às coisas lembrava-me meu irmão.
Depois, eu ia conversar um pouco com Júlio.
- E aí? O que você pretende fazer de faculdade?
- Então...meus pais estão falando pra mim fazer faculdade de engenharia, já que me dou bem na área de exatas.
- Hum...entendo.
Nessa hora, resolvi me abrir para ele.
- Eu acho que vou tentar medicina.
Tanto que não muito depois disso, mudei para uma escola melhor e estudei muito. Fiz amizade com uma garota chamada Lucy.
- Ei Lucy, sabia que tem uma música da banda Skillet com o seu nome? – disse, mexendo no meu notebook. Eu estava na casa dela.
- Uau! Verdade?!
- Sim. E eu soube que a música foi feita em homenagem a um casal que abortou a filha que ainda estava na barriga. Depois, eles se arrependeram. É dessa melancolia que a música se trata.
- Oh...
- Aqui. Eu tenho o vídeo carregado. – e mostrei. (clique aqui para ver)
- Ah...muito lindo!! – dizia ela, quase chorando.
- Sim. Eu adoro essa banda! – dizia enquanto ouvia mais uma vez.
- Ah! Me empresta uma caneta pra anotar o nome da banda.
- Ok.
Peguei minha bolsa, abri e tirei dela um estojo. Coloquei-o em cima da mesa, enfeitado com vários chaveiros.
- Nossa! Quantos chaveiros você coloca no estojo! – disse Lucy, mexendo neles. Então, ela pegou um certo chaveiro em forma de flor. – que bonito! Eu gostei desse.
- Esse aí... – falei, tentando me lembrar onde tinha conseguido. – Ah. – disse quando lembrei. – ganhei em minha antiga cidade de alguns amigos.
- Hum.... – resmungou ela, ainda mexendo nele.
Neste momento, eu fiquei nostálgica e comecei a relembrar sobre o tempo que passei com o pessoal. Porém, eu estava seguindo um sonho. Então eu dentei na cama dela e comecei a olhar para o teto.
- O resultado do vestibular está chegando, né? – disse, com as mãos em cima da barriga. Lucy veio e deitou ao meu lado.
- Sim, é verdade. – uma pausa. – Vamos torcer para passarmos juntas.
- Sim. – E demos as mãos.
Chegando em casa, decidi fazer uma faxina no meu quarto. Arrumando a mesa, percebi que fazia muito tempo que não carregava o celular! Imediatamente, coloquei na tomada para carregar. Depois que o celular ligou, percebi que havia uma mensagem não lida no histórico, de muito tempo.
“Passei em engenharia civil!”
Ai meu deus! Fazia muito tempo mesmo que essa mensagem havia sendo enviada e eu ainda não tinha respondido!
Imediatamente comecei a escrever. “Parabén...” quando terminei a palavra, derrubei o celular no chão, que infelizmente havia mandado a mensagem sem eu ter terminado de escrever. Ah... Comecei a escrever de novo, mas percebi que estava sem crédito dessa vez. “Ah! Desisto!”
Os resultados saíram. Para a minha alegria, eu passei! Porém, não havia acontecido o mesmo para Lucy.
Em nossa despedida, nós nos abraçamos. Ela chorava pela nossa separação.
- Ano que vem, com certeza passarei!
- Pode deixar. Vou guardar um espacinho no pequeno apartamento que aluguei para morar. – dizia, limpando suas lágrimas. Ela deu uma risadinha e disse:
- Se é tão pequeno, então vou pegar outro pra mim do seu lado.
- Hum...infelizmente eu fiquei sabendo que todos do prédio já haviam sido alugados.
- Ah...bom...fazer o quê, né? Quando chegar a hora a gente decide.
Demos uma despedida final e então comecei a viagem.
E dentro de minha bagagem eu ainda levo aquele chaveiro de crisântemo.

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