quarta-feira, 13 de março de 2013

Crisântemo - Capítulo II


            Capítulo II – Júlio’s pov I

            A pressão em cima de nossa classe em relação a notas, vestibular começava a pesar em cima de nós. O professor dizia bastante sobre dedicação, muito estudo, sucesso... porém todos nós estávamos ainda tristes com a partida de Lívia.
            - Tem um espaço vazio na sala agora. – dizia Sofia.
            - Sim... – respondeu Damian.
            - E o que faremos agora? – perguntei.
            - Como assim o que faremos? Viveremos a vida normalmente, é claro. – dizia Thayse, com os braços cruzados e com um ar de desânimo.
            Depois de algum tempo resolvemos brincar mais uma vez de esconde-esconde, um costume que já realizávamos há anos. Porém, a brincadeira começava a perder a graça. Talvez porque estivéssemos um pouco velhos demais para isso. Todos nós nos sentamos na calçada, com os pés na rua. Já estava noite. Começamos a conversar, sobre assuntos variados. Porém a conversa que Sofia tinha com Samuel diferia da minha com Thayse, ou Samuel com Damian, etc. Logo nossas conversas começaram a divergir, e nosso grupo foi se dividindo aos poucos.
            Uma vez fomos a uma pizzaria. Depois de comer e pagar a conta, o normal seria nos divertirmos um pouco. Porém, logo Samuel e Damian levantaram-se, dizendo que tinham de assistir a um programa “muito importante”. Sofia começava fazer desenhos nos guardanapos utilizando shoyuu. Escrevia seu nome.
            - É um nome muito bonito o seu. – disse Thayse.
            - Você acha? – perguntou ela.
            - Sim. Significa “sabedoria”, você sabia?
            Então ela fez um rosto de quem havia descoberto o mundo.
            - Ooh...verdade??! – perguntava ela.
            Thayse riu um pouco e respondeu:
            -Sim, é verdade! – e nós ríamos.
            Então, nós começamos a época de provas. Um dia, depois da prova de biologia, eu e Thayse nos sentamos nas escadarias de uma parte da escola. Depois de conferirmos as respostas da prova um com o outro, olhei para a grama e perguntei:
            - Grama é briófita?
            - Não. – ela respondeu, com extrema negação. - Briófitas são os liquens. Aqueles negocinhos verdes que aparecem quando chove bastante.
            - Tem certeza? – lembrando-me da figura que eu vira na apostila, comparando-a com a estrutura da grama.
            - Sim, certeza.
            - Mas...aquela parte de cima da grama não parece aquele da figura que estava na apostila??
            - É, mas...não! Eu tenho certeza que não é! – dessa vez fazia uma cara de confusão. Então, fez um gesto de negação com o rosto, dizendo – quer apostar?
            - Sim, eu aceito a aposta.
            - Então ta.
            - E o que vamos apostar?
            - Que tal...um sorvete?
            - Aposta feita. – dando um aperto de mão.
            E, para a minha tristeza total, infelizmente, a grama não era briófita.
            - Há....eu disse! Está me devendo um sorvete! – e fazia uma cara de “Viu? Eu sabia!”. Então eu olhava de volta com uma cara de “Há...se acha! Da próxima vez eu ganho, viu?”. Como prometido, no dia seguinte comprei um para ela. Depois disso, resolvemos sair para dar uma volta pelo bairro.
            - Você sabia? Samuel disse que quer se tornar músico. – ela disse.
            - Verdade? – foi uma surpresa, porém pensei depois que isso combinaria com ele. Sua voz era muito bonita, e tinha talento para tal. Também até compôs algumas músicas naquela época. – legal. – Entretanto, essa era uma carreira complicada. Claro.
            - Sim, muito legal. – ela sorria com muita admiração. - E aí? O que você pretende fazer de faculdade? – perguntou ela. Eu fiz uma pausa, pensei, e depois respondi:
            - Então...meus pais estão falando para fazer uma faculdade de engenharia, já que me dou bem na área de exatas.
            - Hum...entendo. – dizia, enquanto esticava seus braços, fazendo uma espécie de alongamento. Respirou fundo e continuou a falar. – acho que vou tentar medicina.
            Fiquei impressionado. Tudo bem que ela sempre foi muito estudiosa e dedicada, mas esse curso é bem concorrido dependendo do local.
            -Uau...você vai ter que se dedicar bastante. – disse a ela, que ficou sem reação por uns instantes. Então pensei bem e continuei – mas...é um curso que combina com você. Você se dará bem nele. Na verdade, acho que você se dará bem em qualquer coisa que decidir seguir.
            Nesse momento, ela deu pequeno lindo sorriso, enquanto dizia “muito obrigada”. Seus olhos brilhavam em minha direção, e eu sentia uma pequena felicidade dentro de mim, fazendo com que minhas mãos não parassem de formigar e tremer. Então eu sorria de novo e dizia:
            - De nada.
            Depois disso, ficou um grande silêncio. Apenas os sons de nossos passos eram ouvidos. Eu também sentia uma pequena e gelada brisa em meu rosto. Então eu fechava os olhos, respirava fundo e dessa forma sentia que estava completamente em paz.
            - Está escurecendo. – disse ela, olhando para o céu.
            - Verdade, vamos andar mais rápido.
            Na escola, quando chegava na hora do recreio era mais ou menos assim: eu e Thayse ficávamos terminando os exercícios de aula, então ela dizia “espera que a gente já vai!” para os outros. Porém nem dava tempo deles terem ouvido. Quando nós olhávamos para trás, eles já haviam saído para lanchar. Era triste o quão separado nosso grupo ficou desde a saída de Lívia. Depois de nos sentirmos decepcionados por dentro, nós nos entreolhávamos, forçávamos um sorriso e dizíamos:
            - Quer comer aqui mesmo?
            - Pode ser.
            E assim o tempo passou.
            Eu e Thayse acabamos indo para colégios diferentes. Nós dois precisávamos nos focar nos estudos. Ela foi para um colégio excelente para preparar-se para o vestibular de medicina, enquanto eu fui para um que valorizava a área de exatas.
            Não sei o que aconteceu ao resto da turma.
            Com o tempo, fui perdendo contato com todos. A última coisa que me lembro de conversar com algum deles é com Thayse.
“Passei em engenharia civil!”
A mensagem, simples e cheia de saudades, demorou para ser respondida.
A faculdade que irei entrar fica em uma cidade meio longe de onde morava, por isso aluguei um pequeno apartamento. Meus pais vão cuidar de todos os preparativos e despesas. Na verdade eu demorei um pouco para cair na real e perceber que iria morar com completos estranhos e ainda sozinho.
A demorada resposta chegara. “Parabéns”.
Era uma mensagem tão curta, tão misteriosa, tão indiferente...
Eu me enchia de perguntas. “O que você está fazendo? Passou em medicina?”. “E Samuel? Estará compondo músicas ainda?”. “Sofia, você ainda desenha?”. “Damian, seu folgado, o que está fazendo agora da vida?”.
Então eu me lembrava de uma pessoa muito importante para nós que foi embora. “Lívia, onde você está agora?”.
Eu me lembrava daquela época que brincávamos juntos na rua. Lembrava de todos. Deitado, com o braço em cima de meus olhos, pensava: “onde está todo mundo?!!”.
Arrumando minhas malas para a mudança, eu vi aquilo pendurado na minha mochila. “Por que ainda tenho aquilo?”. “Talvez para não esquecer aquela parte importantíssima da minha infância”.
- Tchau, mãe, pai. – e dava um beijo e abraço nos dois.
- Tchau filho! Não se esqueça de tomar os remédios, viu? Quer que eu te ligue para lembrar?
Na verdade, nesse momento eu estou com gripe.
- Calma, mãe. Eu lembro sozinho. Não precisa se preocupar! – e dou mais um abraço em minha mãe exageradamente preocupada.
- Se precisar de alguma coisa, é só ligar, viu?! – dizia, enquanto entrava no táxi.
- Pode deixar!
Começo a levar as caixas. Então, eu olho aquela coisa de novo.
Ás vezes eu reflito comigo mesmo. “Hey, pessoal.” “Sabiam que eu ainda guardo aquele chaveirinho brega daquela flor?”.