Capítulo I – Lívia’s pov I
Tudo começou quando tínhamos 7
anos de idade.
Sempre morei em Goiás, mas tinha
acabado de me mudar para uma cidade no interior de São Paulo. O ônibus estava
com problema, por isso fui de carro com meus pais.
E, no
primeiro dia de aula em minha nova escola, em uma nova cidade, fiz amizade com
5 pessoas.
- Olá. –
disse a garota que sentava ao meu lado direito – sou nova aqui também, prazer
em te conhecer. – e sorriu. Eu me sentava na última carteira da fileira do
centro da sala. – Meu nome é Thayse.
Ela tinha longos cabelos
castanhos, lisos que se enrolavam na ponta. Seus olhos eram pretos, e costumava
sempre fazer as unhas utilizando cores que demonstravam seu humor. No dia, suas
unhas estavam pintadas de amarelo vivo, símbolo de otimismo e alegria.
- Prazer,
meu nome é Lívia. – respondi. Ela parecia ser uma pessoa legal.
Logo, a
pessoa que se sentava ao meu lado esquerdo virou-se e disse:
- Ah, que
coincidência! Eu também sou novo aqui! Meu nome é Júlio.
Júlio, na
época, havia acabado de cortar o cabelo. Eram cabelos encaracolados e
castanhos, juntamente com seus olhos. Era esbelto, porém baixinho na época.
- Sério?
Que legal! – Eu dizia, mas fui interrompida pelo garoto em minha diagonal
direita, em frente à Thayse, que se virou rapidamente e disse:
- Sério? Eu
também! E de que escola vocês vieram?
Era um
garoto moreno, de cabelos encaracolados. Nem deu tempo de perguntar seu nome
pois logo em seguida, a pessoa que sentava em minha frente chegou.
- Eu vim da
Sol Norte! – intrometeu-se o garoto, que parecia ser uma pessoa despreocupada e
extravagante. – Ah, e meu nome é Damian. Qual é o de vocês? – Enquanto sorria simpaticamente,
porém aquele sorriso me dava nos nervos. Tinha cabelos loiros e lisos, e era um
pouco gordinho.
- Prazer,
me chamo Lívia. – e sorri.
Foi aí que
chegou a última pessoa do grupo. Sentou-se em minha diagonal esquerda,
discretamente. Uma garota quieta e sorridente. Tinha cabelos cacheados, loiros
e um lindo par de olhos azuis. Virou-se para nós e começou a nos observar.
- E
você...qual seu nome? – dissemos.
- Eu? –
dizia confusa - Ah...meu nome é Sofia. E o de vocês?
Todos
começaram a dizer seus nomes. O garoto ao meu lado esquerdo chamava-se Júlio, a
garota à direita Thayse, em frente a ela, cujo nome conheci na hora, Samuel, e em minha frente Damian. Por último eu,
Lívia.
Não demorou
para que nos tornássemos amigos. Depois da aula, todos pegamos o mesmo ônibus e
ficamos conversando. Fiquei muito amiga de Thayse e Júlio, particularmente.
Depois de algum tempo, o ônibus parou no ponto em que eu iria descer. No
entanto, por alguma misteriosa razão, todos nos levantamos ao mesmo tempo e
saímos.
- A casa de
vocês também fica aqui por perto? – perguntou Samuel.
- Sim –
Todos respondemos.
Comecei a andar
em direção à minha casa. Logo percebi que estávamos todos indo para a mesma
direção.
- Ei, parem
de me seguir. – disse Damian rindo.
- Não estou
te seguindo, minha casa é por aqui. – disse Júlio.
- Caramba,
nós moramos todos bem próximos uns dos outros. – Eu disse.
- Isso é
bom. – respondeu Thayse. – Ah, já estou chegando em minha casa.
Foi neste
momento que nós percebemos que estávamos morando na mesma rua. Talvez porque
era uma rua recente, e muitas pessoas de mudança estavam indo para lá.
Ou talvez
esse fosse o destino. Seis pessoas que vieram de lugares diferentes, que de
repente se mudam para a mesma rua, mesma escola, em uma mesma classe e para
completar, sentam-se em uma mesma região dela. Isso realmente nos aproximou
muito, fortalecendo nossa amizade. Uma pena que ela tenha durado apenas por 4
anos.
Era
primavera dos meus 11 anos. Todos estávamos na 5ª série. Entretanto, por
motivos de conversa, os professores nos separam em diversos locais na sala. E
eu, que era considerada o centro das conversas, passei a sentar bem na frente
do professor.
- Por quê?
Por que tem que ser eu, Tha?? – Esse era o apelido de Thayse. Ela me chamava de
Liv.
- Ah... é
porquê você não para de falar, Liv! Assim você atrapalha meus estudos! – dizia,
me provocando.
- Sim,
verdade! Naquele dia, o professor lhe chamou a atenção umas 124 vezes, que eu
contei! – respondia Júlio, rindo.
- Hah, que
mentira! Pra começar, foi tudo culpa da Sofia e Damian, que ficavam me chamando
para mostrar os rabiscos que ficavam fazendo no caderno. Isso que é
desinteresse pela aula! – dizia, irônica, só para provocá-los.
– É divertido – disse Damian,
sorrindo.
- E...eei! De onde você tirou
esse número?124? Que exagero!! Foram umas... 15 no máximo.... – eu tentava me
defender. Claro que esse número era um completo exagero da parte dele.
- Uhum...isso só se for nos
primeiros 5 minutos da aula. – retrucava Júlio, em meio à gargalhada.
Então, o sino tocou. Era hora de
irmos para casa.
Chegando em
casa, no almoço meus pais e eu começamos a conversar. Depois de algum tempo,
minha mãe interrompeu o assunto para falar:
- Lívia,
seu pai e eu temos uma coisa para lhe contar.
- O quê,
mãe?
- Seu pai
conseguiu um emprego em uma empresa maior, e por isso teremos que morar em
outra cidade. Felizmente, eu também consegui transferência onde trabalho, então
no próximo mês nós já iremos nos mudar. Comece já a arrumar suas coisas para a
mudança.
Foi um
pouco de choque para mim. Quando finalmente tinha feito amigos de verdade...
- O quê
foi, Liv? – disse Tha. Estávamos na hora do recreio. – Você está mais quieta
que o normal hoje.
- É que...
– Todos pararam de conversar para me ouvir e ficaram me olhando por alguns
instantes. Eu abri minha boca, mas não saía nada. Não conseguia falar sobre a
mudança. – não...não é nada.
- Tem
certeza? – disse Júlio, com uma cara de desconfiado.
- Não, não
é nada mesmo. Acho que comi alguma coisa ontem que não me fez bem...- disse,
dando um risinho forçado.
De noite,
estávamos brincando de esconde-esconde na rua. Era tão divertido que
costumávamos brincar até de noite. Júlio e eu nos escondemos atrás de um carro,
era a vez de Samu, o apelido de Samuel, nos procurar.
- Tem
certeza que não é nada? – perguntou.
- O quê? Já
falei que não! – disse.
- Então ta.
Em seguida,
ficou um grande silencio entre nós.
- Pode
contar comigo, se quiser conversar sobre isso. – dizia, com um sorriso
simpático. Foi mais ou menos nessa época que comecei a gostar dele. Depois de
muito resistir, finalmente consegui me abrir.
- Tudo bem!
Vou me mudar daqui a um mês, e por alguma razão consigo contar para os outros.
Ele parou
por um segundo, pela surpresa, e em seguida disse:
- E por quê
não consegue contar para eles? – depois de alguns instantes, voltei a falar.
- Não
sei...talvez esteja triste por ter de dizer isso para eles, ou esteja com medo
do modo com que eles reagirão.
- Pode
confiar em nós. Somos
amigos, não é? – e dava aquele lindo sorriso contagioso, que me fazia ficar um
pouco mais feliz. Virei o rosto para o chão e dei uma risada. “Claro que sim”,
pensei. Não sei por que estava tão relutante quanto a isso.
Então,
Samuel nos encontrou. Depois da brincadeira contei a eles sobre minha mudança,
e todos ficaram em choque por alguns segundos. Menos Sofi, que logo disse:
- Não tem
problema, nós continuaremos mantendo contato! Certo? – referindo-se a todos.
- Mas é
claro! – eu dizia.
Então, um
dia antes da minha mudança, nós fomos na feira no centro da cidade. Eu estava
com as meninas olhando alguns acessórios.
- Eu vou te
dar isso, como lembrança. – disse Sofi, mostrando um chaveiro em forma de
crisântemo, uma flor que dizem significar “uma pessoa muito importante”, ou “um
amigo importante”. Era pequeno e discreto, de cor prateada.
- Uau, que
lindo! Obrigada! – eu disse.
- Então eu
vou comprar um para mim também. – dizia Sofi, já pegando outro daquele para
ela.
- Ei, não é
justo. Eu também quero! – dizia Tha, que já ia pegando um.
- Então por
que não compramos um pra todo mundo? – sugeri.
- Boa
idéia. – disseram.
Quando encontramos
os meninos, distribuímos um chaveirinho para cada.
- Mas isso
aqui não é meio feminino demais? – dizia Damian. Olhando o acessório em forma
de flor.
- Não,
significa “um amigo muito importante”. A gente precisava de um desses, então
compramos. – respondi. – E nem pense em jogar fora! – alertava-o.
- Até
parece que usarei um desses. – disse ele.
Fiquei
triste por um momento, mas confiei nele, acreditando que ele não jogaria fora
um objeto tão importante.
Sem mais
demoras, fui embora da cidade. Foi um pouco difícil no início me adaptar em uma
cidade grande. Porém, logo me acostumei, e fiz algumas amizades, mesmo que não
tão fortes quanto aquelas de antigamente.
Sobre
aquela nossa promessa de continuarmos nos contatando, a realidade logo foi nos mostrando
o quão o tempo pode distanciar as pessoas. As ligações, que antes eram
costumeiras passaram a demorar semanas. A falta de assunto fazia com que as
conversas, mesmo pela internet, diminuíssem, chegando ao ponto de completa
ignorância ou esquecimento por ambas as partes. Era inevitável que acabaria
perdendo totalmente seus contatos.
Logo me formei e optei pela
carreira de jornalismo, pois era uma área em que tinha um pouco de interesse,
porém ainda não tinha certeza se aquela seria mesmo a apropriada para mim. A
faculdade que escolhi ficava um pouco longe de onde morava, por isso comecei a
procurar um apartamento para morar.
Prometi aos
meus pais que arrumaria um emprego de meio-período para ajudar nas minhas
despesas pessoais, enquanto eles pagariam meu alojamento. Escolhi um
apartamento em um imóvel pequeno, que era composto por sete apartamentos
pequenos.
Depois de
realizar a reserva, o proprietário afirmou que todos os outros seis já estavam
alugados. Que sorte, por pouco não consigo a reserva! Mas isso também significa
que terei companhia: seis, para ser exata. Estou animada para conhecê-los.
Neste momento, estou indo para meu apartamento. Desejem-me sorte!